sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Desabafo de um ultra de 17 anos.


Foi-me enviado para o e-mail do blog uma espécie de desabafo de um leitor que fala acerca da sua paixão. E aqui fica.

Tenho 17 anos de vida e sempre gostei de futebol. Precisamente nesta pré-entrada para a idade adulta descobri que não gosto de futebol, que amo futebol. Que não consigo viver sem ele.Qualquer conversa que tenha com conhecidos, mesmo que eles não puxem, eu puxo o futebol à baila. Até nas aulas mando umas bocas das injustiças que se passam no futebol. Como qualquer amante de futebol e amante de um clube, sou amante do mundo dos grupos organizados de adeptos. Dou a valor a todos, mas só puxo por um, como é evidente. Desde pequeno que o futebol está embutido no nosso país como espectáculo que move milhares. Desde pequeno que tive liberdade de escolha clubistica, não foi escolha, foi sentimento. Vivo a mais de 300 km’s do estádio do meu clube e mais que sofrer por perder um jogo, sofro por não estar sempre presente, seja em casa ou fora. O futebol e o meu clube estão presentes desde que me levanto da cama, basta levantar o pescoço quando tiver deitado, para ver um quadro da minha paixão ou então olhar para o lado e ver as horas com um gostinho especial, o símbolo do meu clube lá. Eu amo futebol, eu sou futebol, eu respiro futebol. As discussões lá em casa só têm um motivo: quais financeiros quais quê, FUTEBOL! Discutimos por não poder ir aos jogos que queria (todos) e só ir a alguns. Discutimos por causa de determinados jogadores ou comportamentos da polícia ou dirigentes. Não fumo, não bebo, não me drogo, tenho um único vício, ver o meu clube jogar. Bem ou mal, para mim joga sempre bem. A opinião dos outros não interessa. Também não compreendem a tamanha obsessão (nem eu, pois nasceu comigo). E se tenho um dom, de quando vou ao estádio dar show, puxar por malta que nem conheço, ver o jogo sempre de pé ao lado dos verdadeiros como eu (mas que na sua maioria estão sempre sempre sempre presentes), há que aproveitá-lo. Como? Arranjando trabalho, tornar-me independente. Quero lá saber de mulher ou filhos, quero é estar presente onde o meu clube jogar. O resto vou conhecer lá na curva, tenho a certeza.

Há muitos adeptos que têm cativo, mas não gostam tanto do clube (já nem digo amar) como eu. Só sabem criticar nos maus momentos e aplaudir nos bons ou festejar os golos. Eu não. Eu ainda tenho mais força nos maus momentos ou quando sofremos. Pois continuo a gritar bem alto nome do meu clube. Aliás, foi nos maus momentos que acompanhei fisicamente a minha paixão clubistica por estes estádios fora. Ver pessoas no estádio que quando sofremos golos são capazes de começar aos empurrões e dar cabeçadas na parede em betão no bar atrás da bancada, vêm-me lágrimas aos olhos, por saber que estão a sofrer e que vão empurrar a equipa ao bom momento. Pois a maior parte quando sofre golo, começa a criticar este e aquele e até lenços brancos coloca. Esses que limpem o cuzinho aos lenços brancos para ver de que cor ficam. Que mostrem atitude. Que batam palmas de pé e fiquem roucos ainda nem a segunda parte começou.

Considero-me um adepto de merda, um adepto que não acompanha a todo o lado a sua equipa, mas também me considero injustiçado, pois há bonequinhos sempre presentes que não dão contributo, que vão para lá passar o tempo. Tive esta experiência este ano, de poder ver pessoas a gabar-se que foram aqui e ali, mas os que vi a pouca atenção que dei a eles foi a falar de coisas que nada tinham a ver com o clube e a curtir a sua a fumar. E depois a perguntar onde vamos para a semana, é que tenho que entregar determinado produto a um fulano que não pôde vir hoje. E se não bastasse, esses que eu disse, não cantaram uma única vez no jogo, nem golo gritaram. Eu também pouca festa faço nos golos, pois golos qualquer um grita de alegria, queria era ver a gritar lá para dentro quando a equipa sofre um golo. A gritar a dar ânimo, não criticar. Fazer passar a garra e o sentimento dum clube a correr nas veias através de voz para dentro do campo.

Mas muitos poucos fazem isso, a maior parte prefere baixar a cabeça. Eu não baixo a cabeça de um dos meus objectivos de vida, que aos poucos tem-se vindo a concretizar com mais ou menos percalços. Acompanhar o meu clube, seja dentro ou fora do país. Não tenho culpa de ser um dos objectivos de vida, que para muitos nem se pode considerar isso, mas eu contento-me com pouco. Não é só um simples jogo de futebol como a maior parte diz. E quem anda nesta vida sabe que não o é, o jogo em si até é o menos ao fim de tudo. As preparações, as viagens, as deslocações, o material, o apoio, a união entre as pessoas, etc. são todos pontos mais importantes…

Saudações de um ultra nova guarda, ou o que me queiram considerar.

Ps: Aproveito também para fazer o pedido para que me enviem fotos e vídeos de momentos protagonizados por determinado grupo, relatos ou desabafos acerca de algo que se tenha passado com vocês, textos acerca dos problemas que vivemos nas curvas, textos sobre o passado e o presente, etc. Enfim, enviem tudo o que acharem correcto e necessário para o e-mail do blog relacionado com o movimento ultra.